sábado, 19 de fevereiro de 2011

Chorei em 1492

Por Nadio Roberto de Moraes

Hoje, 19 de fevereiro de 2011, depois de ter embarcado com Cristóvão Colombo, rumo às Índias e a Ásia, a bordo da Santa Maria nas páginas do diário de bordo desta destemida viagem que veio a encontrar as ilhas da América Central, não contive as lágrimas.

Diário este que me fez conhecer um homem de valor inigualável, sempre fiel ao seu sonho. Esperou por 6 anos em Portugal por uma oportunidade, que então foi encontrada na Espanha, quando recebido pela rainha Isabel pode mostrar seu valor e sua dedicação ao sonho de sua vida.

Aos 39 anos acreditando que o mundo era redondo, indo de encontro a lendas de monstros marinhos, e do abismo do fim do mundo, onde o mar acabaria por ser plano o planeta em que vivemos. Tive o privilégio de acompanhar este homem dia a dia em uma viagem, dependendo de instrumentos muito rudimentares de localização em latitude, como o quadrante, guiado pela estrela polar que ficava na leitura 38 graus deste instrumento, navegando além da costa Europeia sempre rumo ao leste como nunca se fizera na época.

Contando as milhas navegadas por marcas largadas na água, e contado o tempo que levava pra percorrer o comprimento da Santa Maria, nau pra 100 toneladas,dava-se a velocidade da embarcação, carregada com água doce, aves, porcos, farinha, grãos que durante a viagem iam apodrecendo, fazendo a tripulação de 50 homens sofrerem de fome e sede além de queimarem ao sol nas proximidades do equador, calor que fazia o capitão Colombo sentir medo de que as velas e os navios pegassem fogo. Os 3 navios da expedição sempre juntos com marinheiros amedrontados por não verem terra a quase dois meses, tramaram um motim para voltarem e destituírem Colombo do comando.

Durante uma calmaria, Martim Pinzon vai até Colombo cobrando a terra nova prometida, Colombo vai ao convés e com as 3 embarcações juntas no meio do Atlântico, discursa aos marinheiros.

Agora vendo o filme “1492 a Conquista do Paraíso”, quando Gerard Depardieu interpretando Colombo fala a seus comandados em pleno Atlântico, desconhecido até então de todo mundo, dizendo que quando o mundo souber das riquezas descobertas por eles, assim como um novo mundo a ser explorado com toda sua grandeza e esplendor, todos poderão dizer a seus filhos e ao mundo que:

“ Eu estive abordo da Pinta, da Nina e da Santa Maria”.

Neste exato momento começou uma rajada de vento que encheu as velas dos barcos e a calmaria se foi. Neste instante as primeiras lágrimas molharam esse rosto de 38 anos.

Quando abriu-se uma cortina de expeça névoa e foi avistada a primeira ilha por Colombo na América central mais uma vez meus olhos marejaram.

Colombo exigiu que seus marinheiros tratassem os nativos como gostariam que fossem tratados seus parentes, dando prova de valoroso homem, respeitando assim um povo hospitaleiro e bom. Esse povo que é a verdadeira essência dos habitantes das Américas.

Depois de 3 viagens entre a América e Europa, depois de ter aberto o Atlântico para a navegação, e provado que havia um novo continente, depois de ter sido traído pela nobreza Espanhola, depois que enfrentou tempestades impressionantes que um barco que navegava ao sabor do vento só conseguiu vencer por estar a bordo um destemido homem, depois de ter tido seus títulos e seu prestígio roubados e voltado acorrentado nos porões de um barco, da sua terra sonhada até a Europa, ainda convenceu a rainha Isabel a deixá-lo voltar, agora a um continente que ele já sabia que existia, mas que fora encontrado por um italiano chamado Américo Vespúcio.

Este italiano que disse ao Rei Fernando da Espanha que se um dia ele chegou ao novo mundo foi porque Cristóvão Colombo assim havia idealizado. Nesse momento mais uma vez marejou-se esse rosto.

Quando a academia da Espanha em reunião, a qual estava Colombo presente, reconheceu que um novo mundo havia sido descoberto dando todo crédito a Vespúcio, chorei novamente.

Quando o rei Fernando na saída da Academia interpelou Colombo, dizendo que ele era um fracassado, e que não conseguiu nada na vida,era apenas um sonhador,e ele respondeu:

“O lhe a sua volta. O que vê?”

“Vejo torres, casas,comércio,igrejas,uma civilização.” Disse rei Fernando.

Então Colombo diz:

“ Pois é através de homens como eu que tudo isso é realizado, homens como o senhor não conquistam nada, não realizam nada;O que foi que o senhor conquistou?”

Neste momento as lágrimas molharam o meu rosto como o atlântico molhou os barcos de Cristóvão Colombo.

Chorei por amor a um homem que conquistou uma rainha pedindo apenas para deixá-lo voltar ao novo mundo pois não queria morrer sem ver o continente que havia descoberto.

Um homem que através da sua coragem e persistência realizou um sonho de uma vida, e descobriu de quebra um novo mundo,

um mundo de beleza sem igual.

Hoje sou Americano, graças a um homem que quando foi desafiado pelo rei da Espanha a reduzir suas exigências para guiar a viagem, ou daria a expedição a outro, disse;

“Não reduzo minhas exigências uma vírgula, pois quero ver encontrar outro que faça essa viagem.”

Pois sabia que era único.

Cristóvão Colombo morreu doente e frustrado mas com um sonho realizado.

Chorei muito ao ver quando seu filho Fernando perguntou ao pai do que se lembrava da 1ª viagem para escrever um livro, e Colombo velho e cansado depois de ter descoberto um lar pra nós, depois de ter mostrado para o mundo como se navega pelo atlântico, lembrava de uma névoa que se abria e mostrava um paraíso.

Com os olhos molhados agradeci a este sonhador, a este destemido, a este homem que só queria navegar a leste, e encontrou nossa casa.

Obrigado Cristóvão Colombo, por ter existido neste pequeno planeta redondo coberto por muita água, águas por ti navegadas como jamais serão, pois só a ti coube a honra de abrir caminho sobre elas.

Assim chorei em 1492 na companhia de Cristóvão Colombo.


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

"Ciência e Religião"


Escritos da Maturidade: artigos sobre
ciência, educação, relações sociais,
racismo, ciências sociais e religião.
Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges -
Rio de Janeiro : Editora Nova Fronteira,
1994.

"Ciência e Religião" (1939-1941) - Págs. 25
a 34. Einstein, Albert, 1870-1955 Título
original: "Out of my later years."

Reunião de reflexões e opiniões de Einstein, nos últimos vinte anos de sua vida. Em estilo conciso e objetivo, o cientista aborda questões profundas relativas a ciência, religião, paz mundial, riscos de destruição da humanidade e direitos das minorias perseguidas. Uma oportunidade singular de conhecer o lado humanista do grande cientista.

Einstein foi além dos limites da razão e penetrou no plano da genialidade. Isto a comunidade científica reconhece e aceita com naturalidade.
O que falta a humanidade aceitar com naturalidade é que Einstein foi além dos limites da genialidade e penetrou no plano Absoluto da existência.
Quando este entendimento for aceito com naturalidade, tanto pela comunidade científica como pelo senso comum, abrir-se-ão para o homem horizontes de amplitude inimaginável e o bem que isto proporcionará é tão grandioso que se torna impossível descrevê-lo por palavras, só podendo mensurá-lo aquele que o vivenciar.
Alenta-nos a certeza de que esta é uma conquista a empreender por todos os humanos e que cada um de nós tem em si mesmo potencial para esta realização.
A evidência irrefutável de que Einstein vivenciou a plenitude de si mesmo e, por isso, teve acesso ao Plano Absoluto, pode ser encontrada em textos de sua autoria, transcritos do livro “Albert Einstein – Escritos da Maturidade, Ed. Nova Fronteira, que a seguir reproduzimos e comentamos:
1. Pg. 25: “...o método científico não nos pode ensinar outra coisa além do modo como os fatos se relacionam e são condicionados uns pelos outros”.
Aqui a Ciência perde a soberba de negar existência ao que ela não pode comprovar, ficando restrita ao mundo fenomênico, ou seja, ao plano material, deixando aos Cientistas apenas o recurso da faculdade racional e, por conseguinte, a necessidade de um elemento que sirva de referencial para obter o conhecimento, classificá-lo, defini-lo e explicá-lo.
2. Pg. 26: “O conhecimento da verdade como tal é maravilhoso, mas é tão pouco capaz de servir de guia que não consegue provar sequer a justificação e o valor da aspiração a esse mesmo conhecimento da verdade. Aqui defrontamos, portanto, com os limites da concepção puramente racional de nossa existência”.
Como que corroborando o entendimento esboçado no item 1, Einstein explicitamente reconhece que a razão humana é limitada, não tendo legitimidade para sustentar a inexistência do que ela não puder explicar e, mais significativo ainda é o entendimento implícito de que o conhecimento pode ser obtido por via não racional, logo Einstein reconhece a existência do meio pararracional, seja para obter o conhecimento que se situa no plano da genialidade ou no Plano Absoluto da existência humana.
3. Pg. 26: “...se alguém pergunta de onde provém a autoridade desses fins fundamentais, já que eles não podem ser formulados e justificados puramente pela razão, só há uma resposta: eles existem nas sociedades saudáveis na forma de tradições vigorosas, que agem sobre a conduta, as aspirações e os juízos dos indivíduos....”
Nós sustentamos que a autoridade desses fins fundamentais provém da sua origem que, transcendendo a matéria e, portanto, situando-se num plano que a razão não pode alcançar, se originam da mesma Substância Simples que também dá origem ao todo material, inclusive a Razão; motivo pelo qual esta não os pode conceber nem explicar, até porque a Criatura não tem como entender nem explicar o Criador.
4. Pg. 30: “...a ciência sem religião é aleijada, a religião sem ciência é cega”.
Partindo de um cientista da genialidade de Einstein, esta afirmação que busca demonstrar que a Ciência é um dos caminhos que conduzem a Deus, assume uma significação da maior respeitabilidade e demonstra que o Cientista que se diz ateu nega a sua mais legítima condição de Cientista, assim como o religioso que nega a religiosidade do Cientista, se distancia da sua própria condição de religioso.
5. Pg. 30: “Durante o período juvenil da evolução espiritual da humanidade, a fantasia humana criou à sua própria imagem deuses que, por seus atos de vontade, supostamente determinariam ou, pelo menos, influenciariam o mundo fenomênico. O homem procurava alterar a disposição desses deuses a seu próprio favor por meio da magia e da prece. A idéia de Deus nas religiões ensinadas atualmente, é uma sublimação dessa antiga concepção dos deuses. Seu caráter antropomórfico se revela, por exemplo, no fato de os homens recorrerem ao Ser Divino em preces a suplicarem a realização de seus desejos.”.
Este entendimento deixa claro a profunda religiosidade de Einstein, a ponto de ser inegável que Deus foi uma presença viva e muito atuante na vida dele, da mesma forma que deixa evidente que Einstein se recusava a aceitar a idéia de um Deus criado pelo homem à sua imagem e semelhança; projetando um radiante facho de luz no caminho da evolução de todos nós e a certeza de que, seguindo por ele, encontraremos o verdadeiro Deus.