quarta-feira, 23 de março de 2011

Carimba aí!

Por Deivid Vincent Rezer Alves
Carimbado e tarimbado pela burocracia


Há setecentos de anos nasceu o símbolo da burocracia: o carimbo! E vai ficar por aí mais alguns milhares. Se acabar como ficarão as “aproximadamente 223.000” fábricas identificadas pelo Google? 

Tecnologias, selo digital, assinatura digital, mas  ele continua a ter suas funções, dos mais variados tipos: auto-entintado, pré-entintado, caneta-carimbo, chancela, componedor, elétrico, infantil, marcador de preço, numerador, punção.

Depois de escolher o tipo e modelo é só encomendar. “Carimbo em uma hora” diz no cartaz. Mas tem que ter o carimbo de “pago” para retirar!

Pra comprar remédio tem que ter receita carimbada, mesmo não dando pra entender direito o nome do remédio e a posologia. “Ou tem carimbo ou não leva, moço!”

E no passaporte. Carimbo de entrada, de saída, de permanência, de não entrada, não saída, não permanência. Xiii!

E se borrar o carimbo? já era! Tem que ir atrás de outro carimbo.

Ah, e tem o carimbo que diz que a cópia do carimbo confere com o carimbo original!

Os reservistas tem que ter cinco carimbos. Senão, tem que pagar taxa. E a taxa dá direito a um carimbo!

Tenho pena dos servidores públicos. Adquirem L.E.R. de tanto bater no carimbo.

Escreveu não leu, não tem importância, o carimbo “comeu”.

Já existiu até carimbo que trocou o nome do dinheiro: Réis viraram Cruzeiros, Cruzeiros viraram Cruzeiros Novos, Cruzeiros Novos viraram Cruzeiros, Cruzeiros viraram Cruzados, Cruzados viraram Cruzados Novos, Cruzados Novos viraram Cruzeiros, Cruzeiros viraram Cruzeiros Reais, Cruzeiros Reais viraram Reais... Ufa! O carimbo, em 52 anos, desvalorizou 2.750.000.000.000.000.000 vezes nosso dinheiro!  

Vai mandar uma carta, põe o selo que o Correio carimba pra você. E tem carimbo de selo também!

Você vai à festa, pra entrar tem que ter convite carimbado.  Vê as mesmas figuras carimbadas lá dentro! Se sair, só volta se tiver carimbo no braço. Senão tem que ter entrada carimbada!

E se você, caro leitor, não concorda com o texto, por favor, apresente sua reclamação assinada e carimbada em cinco vias. Obrigado!

Um abraço com carimbo, digo, carinho.





quarta-feira, 9 de março de 2011

Viagem ao Redor da Lua

 Por Deivid Vincent Rezer Alves

Viagem ao Redor da Lua (no original em francês De la Terre à la Lune) é um livro do escritor francês Júlio Verne, publicado em 1865.

Um clássico que todos devem ter em suas bibliotecas.

Durante a Guerra de Secessão dos Estados Unidos, um novo clube muito influente fundou-se na Cidade de Baltimore, no Estado de Maryland. Sabe-se com que energia o instinto militar se desenvolveu entre esse povo de armadores, de comerciantes e de industriais. Simples negociantes deixaram os seus balcões para se improvisarem capitães, coronéis, generais, sem terem passado pelas aulas de academias militares; em breve igualam na "arte de guerra" os seus colegas do Velho Continente, e como eles conseguiram brilhantes vitórias à força de prodigalizarem balas, milhões e homens.

Contudo, no que os americanos ultrapassaram singularmente os europeus foi na ciência da balística. Não que as suas armas atingissem mais alto grau de perfeição, mas porque ofereceram dimensões inusitadas, tendo, por conseqüência, alcances desconhecidos até então. No que diz respeito a tiros rascantes ou de rajada, os ingleses, os franceses e os prussianos nada mais tinham a aprender; mas os seus canhões, os seus obuses, os seus morteiros não passavam de pistolas de bolso comparados com os formidáveis engenhos bélicos da artilharia americana.

Isto não deve espantar ninguém: os ianques, esses primeiros mecânicos do Mundo, são engenheiros, como os italianos são músicos e os alemães metafísicos - de nascença. Nada mais natural que vê-los levar para a ciência da balística a sua audaciosa engenhosidade. Daí esses canhões gigantescos, muito menos úteis do que máquinas de costura, mas tão espantosos como elas e ainda mais admirados.

Portanto, durante essa terrível luta entre nortistas e sulistas, os artilheiros estiveram em primeiro lugar; os jornais dos Estados Unidos celebravam as suas invenções com entusiasmo, e não havia comerciante nem ingênuo basbaque que não quebrasse a cabeça, de dia e de noite, e calculando trajetórias absurdas.

Ora, quando um americano tem uma idéia, procura logo outro americano que a partilhe com ele. Se chegam a ser três, elegem um presidente e um secretário. Se forem quatro, nomeiam um arquivista e a sociedade funciona. No caso de serem cinco, convocam uma assembléia geral e o clube fica constituído. Foi assim que sucedeu em Baltimore. O primeiro a inventar um novo canhão associou-se ao primeiro que o fundiu e ao primeiro
que o forjou. Foi esse o início do Clube do Canhão. Um mês após a sua formação, contava mil oitocentos e trinta e três membros efetivos e trinta mil quinhentos e setenta e cinco sócios correspondentes.

Uma condição sine qua non era imposta a todos aqueles que quisessem entrar na associação: ter imaginado ou pelo menos aperfeiçoado uma arma, qualquer arma de fogo.

No entanto, para falar a verdade os inventores de revólver de quinze tiros, de carabinas de repetição ou de sabres e pistolas não gozavam de grande consideração aos artilheiros
é que era reconhecida primazia em todas as circunstâncias.


Com o grande sucesso da Artilharia Norte Americana nas batalhas, surgiu o Clube do Canhão.

Porém, para a tristeza de todos os sócios, as guerras andavam escassas e o Clube do canhão tornou-se um tanto monótono. Seu Presidente ideia de seus membros em construir um enorme canhão para arremessar um projétil de forma cilindro-cônica à Lua.

Um aventureiro francês chamado Michel Ardan, de modos extravagantes, propõe que o projétil lançado seja tripulado e se apresenta como candidato a "astronauta". Depois desta surpreendente proposta, dois dos membros do "Gun Club" também embarcam nesta "loucura". Para que este empreendimento se realizasse, foram construídos um canhão, uma bala oca, e um telescópio, todos de dimensões impensáveis, a quantidade de pólvora usada também era de volumes impensáveis.

Depois de disparada, a bala quando se aproximou da Lua, em vez de aterrissar, entrou em órbita da própria lua. Os três passageiros apenas tinham mantimentos para 3 meses, ficando a saga em aberto. O futuro dos três astronautas, é descrito na obra À roda da Lua.

Entre algumas coincidências notórias do filme com a exploração do espaço pelo homem, estão:

    * descrição do módulo com três astronautas;
    * O local de partida da nave em Tampa, nos EUA, apenas a 30 km de distância de onde realmente sairia a Apollo 11 cerca de cem anos depois;
    * O nome de alguns astronautas, como Michel Ardan, é semelhante ao Michael de Michael Collins; e Ardan, ao do astronauta Edwin Aldrin).

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Chorei em 1492

Por Nadio Roberto de Moraes

Hoje, 19 de fevereiro de 2011, depois de ter embarcado com Cristóvão Colombo, rumo às Índias e a Ásia, a bordo da Santa Maria nas páginas do diário de bordo desta destemida viagem que veio a encontrar as ilhas da América Central, não contive as lágrimas.

Diário este que me fez conhecer um homem de valor inigualável, sempre fiel ao seu sonho. Esperou por 6 anos em Portugal por uma oportunidade, que então foi encontrada na Espanha, quando recebido pela rainha Isabel pode mostrar seu valor e sua dedicação ao sonho de sua vida.

Aos 39 anos acreditando que o mundo era redondo, indo de encontro a lendas de monstros marinhos, e do abismo do fim do mundo, onde o mar acabaria por ser plano o planeta em que vivemos. Tive o privilégio de acompanhar este homem dia a dia em uma viagem, dependendo de instrumentos muito rudimentares de localização em latitude, como o quadrante, guiado pela estrela polar que ficava na leitura 38 graus deste instrumento, navegando além da costa Europeia sempre rumo ao leste como nunca se fizera na época.

Contando as milhas navegadas por marcas largadas na água, e contado o tempo que levava pra percorrer o comprimento da Santa Maria, nau pra 100 toneladas,dava-se a velocidade da embarcação, carregada com água doce, aves, porcos, farinha, grãos que durante a viagem iam apodrecendo, fazendo a tripulação de 50 homens sofrerem de fome e sede além de queimarem ao sol nas proximidades do equador, calor que fazia o capitão Colombo sentir medo de que as velas e os navios pegassem fogo. Os 3 navios da expedição sempre juntos com marinheiros amedrontados por não verem terra a quase dois meses, tramaram um motim para voltarem e destituírem Colombo do comando.

Durante uma calmaria, Martim Pinzon vai até Colombo cobrando a terra nova prometida, Colombo vai ao convés e com as 3 embarcações juntas no meio do Atlântico, discursa aos marinheiros.

Agora vendo o filme “1492 a Conquista do Paraíso”, quando Gerard Depardieu interpretando Colombo fala a seus comandados em pleno Atlântico, desconhecido até então de todo mundo, dizendo que quando o mundo souber das riquezas descobertas por eles, assim como um novo mundo a ser explorado com toda sua grandeza e esplendor, todos poderão dizer a seus filhos e ao mundo que:

“ Eu estive abordo da Pinta, da Nina e da Santa Maria”.

Neste exato momento começou uma rajada de vento que encheu as velas dos barcos e a calmaria se foi. Neste instante as primeiras lágrimas molharam esse rosto de 38 anos.

Quando abriu-se uma cortina de expeça névoa e foi avistada a primeira ilha por Colombo na América central mais uma vez meus olhos marejaram.

Colombo exigiu que seus marinheiros tratassem os nativos como gostariam que fossem tratados seus parentes, dando prova de valoroso homem, respeitando assim um povo hospitaleiro e bom. Esse povo que é a verdadeira essência dos habitantes das Américas.

Depois de 3 viagens entre a América e Europa, depois de ter aberto o Atlântico para a navegação, e provado que havia um novo continente, depois de ter sido traído pela nobreza Espanhola, depois que enfrentou tempestades impressionantes que um barco que navegava ao sabor do vento só conseguiu vencer por estar a bordo um destemido homem, depois de ter tido seus títulos e seu prestígio roubados e voltado acorrentado nos porões de um barco, da sua terra sonhada até a Europa, ainda convenceu a rainha Isabel a deixá-lo voltar, agora a um continente que ele já sabia que existia, mas que fora encontrado por um italiano chamado Américo Vespúcio.

Este italiano que disse ao Rei Fernando da Espanha que se um dia ele chegou ao novo mundo foi porque Cristóvão Colombo assim havia idealizado. Nesse momento mais uma vez marejou-se esse rosto.

Quando a academia da Espanha em reunião, a qual estava Colombo presente, reconheceu que um novo mundo havia sido descoberto dando todo crédito a Vespúcio, chorei novamente.

Quando o rei Fernando na saída da Academia interpelou Colombo, dizendo que ele era um fracassado, e que não conseguiu nada na vida,era apenas um sonhador,e ele respondeu:

“O lhe a sua volta. O que vê?”

“Vejo torres, casas,comércio,igrejas,uma civilização.” Disse rei Fernando.

Então Colombo diz:

“ Pois é através de homens como eu que tudo isso é realizado, homens como o senhor não conquistam nada, não realizam nada;O que foi que o senhor conquistou?”

Neste momento as lágrimas molharam o meu rosto como o atlântico molhou os barcos de Cristóvão Colombo.

Chorei por amor a um homem que conquistou uma rainha pedindo apenas para deixá-lo voltar ao novo mundo pois não queria morrer sem ver o continente que havia descoberto.

Um homem que através da sua coragem e persistência realizou um sonho de uma vida, e descobriu de quebra um novo mundo,

um mundo de beleza sem igual.

Hoje sou Americano, graças a um homem que quando foi desafiado pelo rei da Espanha a reduzir suas exigências para guiar a viagem, ou daria a expedição a outro, disse;

“Não reduzo minhas exigências uma vírgula, pois quero ver encontrar outro que faça essa viagem.”

Pois sabia que era único.

Cristóvão Colombo morreu doente e frustrado mas com um sonho realizado.

Chorei muito ao ver quando seu filho Fernando perguntou ao pai do que se lembrava da 1ª viagem para escrever um livro, e Colombo velho e cansado depois de ter descoberto um lar pra nós, depois de ter mostrado para o mundo como se navega pelo atlântico, lembrava de uma névoa que se abria e mostrava um paraíso.

Com os olhos molhados agradeci a este sonhador, a este destemido, a este homem que só queria navegar a leste, e encontrou nossa casa.

Obrigado Cristóvão Colombo, por ter existido neste pequeno planeta redondo coberto por muita água, águas por ti navegadas como jamais serão, pois só a ti coube a honra de abrir caminho sobre elas.

Assim chorei em 1492 na companhia de Cristóvão Colombo.


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

"Ciência e Religião"


Escritos da Maturidade: artigos sobre
ciência, educação, relações sociais,
racismo, ciências sociais e religião.
Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges -
Rio de Janeiro : Editora Nova Fronteira,
1994.

"Ciência e Religião" (1939-1941) - Págs. 25
a 34. Einstein, Albert, 1870-1955 Título
original: "Out of my later years."

Reunião de reflexões e opiniões de Einstein, nos últimos vinte anos de sua vida. Em estilo conciso e objetivo, o cientista aborda questões profundas relativas a ciência, religião, paz mundial, riscos de destruição da humanidade e direitos das minorias perseguidas. Uma oportunidade singular de conhecer o lado humanista do grande cientista.

Einstein foi além dos limites da razão e penetrou no plano da genialidade. Isto a comunidade científica reconhece e aceita com naturalidade.
O que falta a humanidade aceitar com naturalidade é que Einstein foi além dos limites da genialidade e penetrou no plano Absoluto da existência.
Quando este entendimento for aceito com naturalidade, tanto pela comunidade científica como pelo senso comum, abrir-se-ão para o homem horizontes de amplitude inimaginável e o bem que isto proporcionará é tão grandioso que se torna impossível descrevê-lo por palavras, só podendo mensurá-lo aquele que o vivenciar.
Alenta-nos a certeza de que esta é uma conquista a empreender por todos os humanos e que cada um de nós tem em si mesmo potencial para esta realização.
A evidência irrefutável de que Einstein vivenciou a plenitude de si mesmo e, por isso, teve acesso ao Plano Absoluto, pode ser encontrada em textos de sua autoria, transcritos do livro “Albert Einstein – Escritos da Maturidade, Ed. Nova Fronteira, que a seguir reproduzimos e comentamos:
1. Pg. 25: “...o método científico não nos pode ensinar outra coisa além do modo como os fatos se relacionam e são condicionados uns pelos outros”.
Aqui a Ciência perde a soberba de negar existência ao que ela não pode comprovar, ficando restrita ao mundo fenomênico, ou seja, ao plano material, deixando aos Cientistas apenas o recurso da faculdade racional e, por conseguinte, a necessidade de um elemento que sirva de referencial para obter o conhecimento, classificá-lo, defini-lo e explicá-lo.
2. Pg. 26: “O conhecimento da verdade como tal é maravilhoso, mas é tão pouco capaz de servir de guia que não consegue provar sequer a justificação e o valor da aspiração a esse mesmo conhecimento da verdade. Aqui defrontamos, portanto, com os limites da concepção puramente racional de nossa existência”.
Como que corroborando o entendimento esboçado no item 1, Einstein explicitamente reconhece que a razão humana é limitada, não tendo legitimidade para sustentar a inexistência do que ela não puder explicar e, mais significativo ainda é o entendimento implícito de que o conhecimento pode ser obtido por via não racional, logo Einstein reconhece a existência do meio pararracional, seja para obter o conhecimento que se situa no plano da genialidade ou no Plano Absoluto da existência humana.
3. Pg. 26: “...se alguém pergunta de onde provém a autoridade desses fins fundamentais, já que eles não podem ser formulados e justificados puramente pela razão, só há uma resposta: eles existem nas sociedades saudáveis na forma de tradições vigorosas, que agem sobre a conduta, as aspirações e os juízos dos indivíduos....”
Nós sustentamos que a autoridade desses fins fundamentais provém da sua origem que, transcendendo a matéria e, portanto, situando-se num plano que a razão não pode alcançar, se originam da mesma Substância Simples que também dá origem ao todo material, inclusive a Razão; motivo pelo qual esta não os pode conceber nem explicar, até porque a Criatura não tem como entender nem explicar o Criador.
4. Pg. 30: “...a ciência sem religião é aleijada, a religião sem ciência é cega”.
Partindo de um cientista da genialidade de Einstein, esta afirmação que busca demonstrar que a Ciência é um dos caminhos que conduzem a Deus, assume uma significação da maior respeitabilidade e demonstra que o Cientista que se diz ateu nega a sua mais legítima condição de Cientista, assim como o religioso que nega a religiosidade do Cientista, se distancia da sua própria condição de religioso.
5. Pg. 30: “Durante o período juvenil da evolução espiritual da humanidade, a fantasia humana criou à sua própria imagem deuses que, por seus atos de vontade, supostamente determinariam ou, pelo menos, influenciariam o mundo fenomênico. O homem procurava alterar a disposição desses deuses a seu próprio favor por meio da magia e da prece. A idéia de Deus nas religiões ensinadas atualmente, é uma sublimação dessa antiga concepção dos deuses. Seu caráter antropomórfico se revela, por exemplo, no fato de os homens recorrerem ao Ser Divino em preces a suplicarem a realização de seus desejos.”.
Este entendimento deixa claro a profunda religiosidade de Einstein, a ponto de ser inegável que Deus foi uma presença viva e muito atuante na vida dele, da mesma forma que deixa evidente que Einstein se recusava a aceitar a idéia de um Deus criado pelo homem à sua imagem e semelhança; projetando um radiante facho de luz no caminho da evolução de todos nós e a certeza de que, seguindo por ele, encontraremos o verdadeiro Deus.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Copo Descartável e o Homem Contemporâneo

Por Nadio Roberto de Moraes

Em uma tarde ensolarada de verão, estava com minha filha no centro de Santa Maria, tomando um suco natural quando me dei conta de como os copos e garrafas descartáveis nos mostram como vive atormentado o homem atual.
Trabalhei em um restaurante em Porto Alegre quando tinha 12 anos, nesta época em 1986 não era crime uma criança trabalhar como hoje é; prova disso que tinha carteira assinada.

Naquela época quando uma pessoa estava com sede, era obrigada a parar em algum lugar para saciá-la, pois não havia copos descartáveis muito menos garrafa Pet’s, assim sendo não tinha alternativa a não ser parar na frente do balcão e saborear a bebida preferida, acabava rolando um papo com o balconista dos mais variados que se possa imaginar, e o cérebro dessa pessoa se dava conta de que ela estava matando sua sede em um belo copo de vidro, sem se preocupar em não apertá-lo demais para não esmagá-lo e ainda era motivo de orgulho para o Joaquim, o irmão do dono, seu bar possuir o balcão e os copos mais limpos da Vila Jardim e Vila Ipiranga.

Bons tempos aqueles em que as necessidades humanas eram mais valorizadas, onde se parava o mundo por um copo de suco, de refri ou de água mineral, onde as pessoas davam o devido respeito ao seu corpo e suas necessidades, onde os bares tinham espaços para bons papos e paradas momentâneas, e que o mundo lá fora espere.

Hoje as pessoas passam correndo pela lancheria, o balconista nem olha o rosto do cliente, lhe entrega o copo descartável ou o Pet’s, e a pessoa sai em meio à multidão devorando o líquido, sem dar a oportunidade de seu corpo saber o que aconteceu. Não se saboreia o produto nem se mata a sede, simplesmente se devora o líquido enquanto caminha, e sua mente vaga pelos devaneios de uma sociedade atraída pelo consumismo e a pressa pra tudo, escravos do relógio.

E ainda nem falamos nos descartáveis, que só são bons para quem os produz, e o que dizer dos bueiros entupidos pela falta de consciência e educação nossa.

Você se lembra do prazer de parar para matar a sede em um belo e limpo copo de vidro que não se esmaga, sem se preocupar com o que se extraiu da natureza e para onde vai este lixo puramente comercial, e ainda dar a oportunidade de um balconista se orgulhar de um balcão impecável e um papo momentâneo enquanto sua mente avisa seu corpo que sua sede será saciada.

E o mundo lá fora que espere, pois estou com sede meu amigo balconista.