Por Nadio Roberto de Moraes
Em uma tarde ensolarada de verão, estava com minha filha no centro de Santa Maria, tomando um suco natural quando me dei conta de como os copos e garrafas descartáveis nos mostram como vive atormentado o homem atual.
Trabalhei em um restaurante em Porto Alegre quando tinha 12 anos, nesta época em 1986 não era crime uma criança trabalhar como hoje é; prova disso que tinha carteira assinada.
Naquela época quando uma pessoa estava com sede, era obrigada a parar em algum lugar para saciá-la, pois não havia copos descartáveis muito menos garrafa Pet’s, assim sendo não tinha alternativa a não ser parar na frente do balcão e saborear a bebida preferida, acabava rolando um papo com o balconista dos mais variados que se possa imaginar, e o cérebro dessa pessoa se dava conta de que ela estava matando sua sede em um belo copo de vidro, sem se preocupar em não apertá-lo demais para não esmagá-lo e ainda era motivo de orgulho para o Joaquim, o irmão do dono, seu bar possuir o balcão e os copos mais limpos da Vila Jardim e Vila Ipiranga.
Bons tempos aqueles em que as necessidades humanas eram mais valorizadas, onde se parava o mundo por um copo de suco, de refri ou de água mineral, onde as pessoas davam o devido respeito ao seu corpo e suas necessidades, onde os bares tinham espaços para bons papos e paradas momentâneas, e que o mundo lá fora espere.
Hoje as pessoas passam correndo pela lancheria, o balconista nem olha o rosto do cliente, lhe entrega o copo descartável ou o Pet’s, e a pessoa sai em meio à multidão devorando o líquido, sem dar a oportunidade de seu corpo saber o que aconteceu. Não se saboreia o produto nem se mata a sede, simplesmente se devora o líquido enquanto caminha, e sua mente vaga pelos devaneios de uma sociedade atraída pelo consumismo e a pressa pra tudo, escravos do relógio.
E ainda nem falamos nos descartáveis, que só são bons para quem os produz, e o que dizer dos bueiros entupidos pela falta de consciência e educação nossa.
Você se lembra do prazer de parar para matar a sede em um belo e limpo copo de vidro que não se esmaga, sem se preocupar com o que se extraiu da natureza e para onde vai este lixo puramente comercial, e ainda dar a oportunidade de um balconista se orgulhar de um balcão impecável e um papo momentâneo enquanto sua mente avisa seu corpo que sua sede será saciada.
E o mundo lá fora que espere, pois estou com sede meu amigo balconista.
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